Por Jessé Rebouças
O sistema financeiro nacional é, como se sabe, um dos mais lucrativos do planeta. Ano após ano, os cinco maiores bancos do país — três privados e dois públicos — registram superávits bilionários históricos. Nesse setor, a palavra “crise” jamais figurou no glossário.
Essa realidade não é nova. Há vasta documentação histórica a respeito. Uma das mais contundentes está no clássico Brasil: Colônia de Banqueiros (História dos Empréstimos de 1824 a 1934), do político e escritor Gustavo Barroso. Ali se lê:
“Livres de Portugal em 1822, não nos libertamos da metrópole comercial inglesa senão em 1834. Passamos a um jugo pior: tornamo-nos colônia da casa bancária Rothschild.”
De fato, nossa independência custou 2 milhões de libras esterlinas — um empréstimo da Inglaterra ao Brasil para pagar uma dívida… de Portugal com a própria Inglaterra. Nossa emancipação não foi uma conquista por liberdade, mas um negócio entre credores. “O Brasil não é para amadores.”
Essa lógica de subjugação via dívida se perpetua até hoje. Com juros abusivos e uma inadimplência recorde — mais de 70 milhões de brasileiros negativados em abril de 2025, segundo a CNDL —, a senadora Zenaide Maia (PSD-RN) propôs urgência na tramitação da PEC 79/2019, que estabelece um teto para os juros bancários: no máximo três vezes a taxa Selic — o que, hoje, representaria algo em torno de 45% ao ano.
Parece alto? É. Mas soa quase generoso quando comparado ao juro do rotativo do cartão de crédito, que ultrapassa os 450% ao ano. Um verdadeiro massacre ao orçamento das famílias brasileiras.
E o mais trágico: as dívidas com cartão de crédito não são por luxo, mas por sobrevivência. Pagamento de luz, água, mercado, farmácia. O básico.
Do outro lado, o pequeno empresário — responsável por mais de 70% dos empregos no Brasil — também sofre. Crédito é escasso, caro e inacessível. Juros “quase confiscatórios” asfixiam qualquer tentativa de expansão produtiva.
Uma pesquisa da PROTESTE mostrou que o juro rotativo no Brasil é 10 vezes maior que o do segundo colocado na América Latina:
- Peru: 43,7% ao ano
- Argentina: 43,29% (mesmo com inflação de 40%)
- Venezuela: 29% ao ano (com limite legal)
Enquanto isso, no Brasil, 450%. É uma extorsão legalizada.
E não se trata de cultura de calote. O problema é outro: o brasileiro quer pagar — só não consegue. Os juros escorchantes transformam pequenas dívidas em montanhas intransponíveis.
Exemplo real: uma dívida de R$ 1.000, com atraso no rotativo do cartão, vira R$ 1.450 em 30 dias. E salta para R$ 2.102,50 em apenas dois meses. Isso num país com o quarto pior salário mínimo das Américas — atrás apenas de Venezuela, República Dominicana e Argentina.
A equação é brutal: renda diminuta + juros abusivos = estagnação econômica.
A PEC 79/2019 não é panaceia, mas pode quebrar a engrenagem da agiotagem oficial. Pode devolver o direito de respirar a quem hoje vive afogado em boletos.
A bandeira de Zenaide não é ideológica. É concreta, coletiva, e toca nos pontos mais sensíveis da sociedade. É hora de os demais parlamentares potiguares deixarem a retórica vazia de lado e enfrentarem os dramas reais da população.
A verdadeira ideologia está aqui: ou se defende o povo, ou se defende os bancos.
O juro de 450% não é sinal de liberdade de mercado — é sintoma de colapso moral. A PEC 79/2019 é mais do que uma proposta técnica: é um grito por justiça econômica. Os bancos têm seus porta-vozes. Quem falará pelas famílias?