Aliança ou blefe? Álvaro se aproxima de Allyson para não ser engolido

Assim como o pastor sobe ao púlpito, lê uma passagem da Bíblia e faz uma exegese — interpretação minuciosa do texto — quero hoje fazer uma espécie de exegese da entrevista que o ex-prefeito de Natal concedeu ao jornal Diário do RN. Nessa conversa, Álvaro Dias comenta a reunião que teve com o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra.

“Uma chapa trabalhada e apoiada por mim e por Allyson não é terceira via. Vira uma chapa forte, muito competitiva, com apoio consistente em Natal, Mossoró, no Seridó e no Oeste.”

Álvaro Dias entende que Allyson, sozinho, representa uma terceira via. Mas, com ele na equação, essa via vira “principal”. A fala tenta vender sua presença como o diferencial entre derrota e vitória. O ex-prefeito se coloca como elemento vital — e ainda não está claro de onde ele tira essa certeza de que traz consigo Natal e o Seridó inteiros para qualquer palanque.

Acordamos de caminhar juntos, de continuar conversando… A gente viu pontos convergentes, divergentes e combinou de manter o diálogo para ver se chega a um denominador comum.”

Se decidiram caminhar juntos, parece que a aliança está formada. Mas, se ainda vão conversar para encontrar um denominador comum, então o acerto definitivo ainda não aconteceu. “Continuar conversando” é bem diferente de “acertar tudo”.

“Eu não descarto a possibilidade de disputar o Senado. A minha preferência é o Governo, mas não descarto o Senado, não.”

Álvaro sabe que não há espaço para ele disputar o Governo nem no palanque de Rogério Marinho nem no de Allyson. Está, na verdade, cavando uma vaga ao Senado. Quando ele próprio admite que aceitaria disputar o Senado, fica evidente que esse é seu objetivo real. A suposta candidatura ao Governo parece mais uma moeda de troca.

“Não quer dizer isso, não. Quer dizer que vou estar sempre conversando com Allyson, procurando alinhar minha decisão com os interesses comuns meus e dele, para a gente ter aí uma boa convivência e não ser engolido.”

Essa resposta, dada quando questionado sobre possível rompimento com Rogério Marinho, revela muito mais no final: “para não ser engolido”. Álvaro sente que está sendo escanteado no grupo de Rogério e buscou Allyson para mostrar que ainda tem alternativas. Foi uma tentativa de autopreservação política — e de gerar uma imagem de força.

Por fim, o que muita gente se pergunta é sobre aquela fala antiga de Álvaro, em que dizia que Allyson era muito novo, que deveria esperar sua vez e que ainda não tinha a experiência necessária. Agora, o mesmo jovem antes “despreparado” pode ser o parceiro de jornada.

E se alguém confrontar Álvaro sobre essa reviravolta, não me surpreenderia se ele dissesse que Allyson acaba de completar 33 anos — a idade de Cristo crucificado — e, por isso mesmo, ganhou o carimbo da experiência.

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