A questão que levantei ontem neste blog, sobre a iniciativa do deputado estadual Dr. Bernardo (PSDB) ao sugerir que a governadora Fátima Bezerra antecipe para o final deste ano sua renúncia ao cargo — dando mais tempo para Walter Alves governar o RN — gerou muitos comentários e análises em quase todos os programas políticos da mídia desde então.
O fato é relevante.
A grande dúvida é se essa foi uma iniciativa espontânea de Dr. Bernardo, refletindo apenas um pensamento pessoal, ou se, como liderança política ligada a Walter Alves e Ezequiel Ferreira, ele estaria cumprindo uma missão previamente combinada.
Se for a primeira hipótese — um gesto isolado — Dr. Bernardo misturou alhos com bugalhos e defendeu algo sem justificativa. Ele sugeriu que se iniciasse desde já uma transição política para que o vice-governador assumisse ações próprias de governo. Isso não existe — nem aqui, nem na China. O que ele propõe é que a governadora vire, com meses de antecedência, uma espécie de “rainha da Inglaterra”, entregando os atos de governo ao vice. Nunca se ouviu falar em transição para o vice assumir o fim de um mandato, muito menos renúncia antecipada em nome disso.
O argumento de Dr. Bernardo — de que Walter, assumindo antes, teria mais tempo para organizar o governo e ajudar na campanha de Fátima ao Senado — não tem lógica. Por que seria mais útil que Walter organizasse a campanha dela, e não ela mesma?
Existe ainda um ponto mais delicado: ao dizer que, assumindo logo, Walter teria mais compromisso com a candidatura de Fátima, Dr. Bernardo pode estar levantando uma ameaça velada. A mensagem implícita seria: “se não renunciar, não conte com o empenho do futuro governador”.
Agora, se considerarmos a segunda hipótese — de que Dr. Bernardo esteja apenas dando voz a um grupo — a situação se torna ainda mais nebulosa. Nesse caso, o que parece uma sugestão se transforma em uma espécie de ultimato.
Se realmente Walter Alves deseja que Fátima antecipe sua saída, não estamos diante de uma transição legítima, mas de uma ansiedade de poder. E isso é perigoso, pois Walter passaria a ser visto com desconfiança até por aliados.
O governo já reagiu. O pré-candidato a governador Cadu Xavier declarou que essa hipótese não está sendo considerada por Fátima. Ou seja, por ora, não há chance de isso acontecer. Walter Alves, até aqui, mantém silêncio.