PP e União Brasil fazem o discurso de rompimento, mas não entregam as regalias do poder

Tem sido interessante acompanhar a notícia do “desembarque” do União Brasil e do PP do Governo Lula. Não pelo lado político em si, em que acordos e desacordos fazem parte do jogo, mas pela ficção com que esse suposto rompimento acontece.

O PP e o União Brasil ocupam há quase três anos nada menos que quatro ministérios, além da Caixa Econômica e de outras instituições. Se o desembarque fosse real, deveria envolver ministros, diretorias, coordenadorias, chefias — enfim, todos os escalões do governo.

Chamo de desembarque fictício porque a história é apenas “para inglês ver”. Arthur Lira (PP) não abrirá mão da direção da Caixa. Os dois ministros ligados a Davi Alcolumbre (União Brasil) também não sairão. Os cargos, segundo os resistentes à entrega, pertencem aos líderes, não aos partidos.

Na prática, apenas duas cabeças devem rolar: a do ministro dos Esportes, André Fufuca (PP), e a do Turismo, Celso Sabino (União Brasil). Ambos resistem à saída. Enquanto isso, ninguém menciona as centenas de outros cargos ocupados pelos dois partidos na estrutura federal. A ordem é fingir que nada acontece e permanecer onde der.

Essa encenação lembra as fotos do ex-senador José Agripino, conduzindo prefeitos e vereadores pelos gabinetes dos ministérios controlados pelo União Brasil. Embora fosse defensor do desembarque, também aproveitou as regalias da Corte enquanto pôde.

Um desembarque sério precisa ser completo: todos saem, do primeiro ao último escalão. Só assim um partido mostra, de fato, que não concorda com o governo. O que PP e União Brasil ensaiam hoje não passa de pantomima, bem distante da realidade.

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