CPI do INSS: pode um investigador ter elo com investigado?

O senador Rogério Marinho era, em 2020, Secretário Nacional da Previdência Social, ou seja, a principal autoridade da área. Até aí, nada de anormal.

Ele estava à frente da Previdência quando já funcionava um esquema de descontos associativos em aposentadorias, favorecido pela falta de fiscalização e pela facilidade com que autorizações eram concedidas. Não existem, no entanto, provas de que ele tivesse conhecimento ou se beneficiasse desse esquema.

Na eleição de 2018, Rogério recebeu em sua campanha para deputado federal uma doação de R$ 10.000,00 do advogado Nelson Wilians, investigado por suposta ligação com o “Careca do INSS” e que foi alvo de mandado de busca e apreensão, apontado como um intermediário e beneficiário das fraudes.

Rogério afirma que a doação foi legal e devidamente declarada, o que, de fato, não configura irregularidade.

Ainda assim, a situação causa estranhamento: um doador de campanha sob investigação e Rogério, beneficiário da doação e que chefiava o INSS quando o esquema já estava ativo, agora ocupa posição de investigador no caso. Isso gera desconforto e levanta questionamentos.

Considero inadequado que Rogério faça parte da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura os fatos, dado o vínculo indireto entre ele e um dos investigados. Afinal, se um doador de campanha representa um elo entre investigado e investigador, cria-se um conflito ético. O próprio Rogério já criticou o ministro Alexandre de Moraes por, segundo ele, atuar como “vítima e juiz” no julgamento de Jair Bolsonaro.

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