Demissão de Heitor Gregório na Tribuna do Norte fala mais de Flávio Azevedo do que qualquer outra coisa

A atitude do empresário Flávio Azevedo, um dos sócios do jornal Tribuna do Norte, ao demitir via redes sociais o jornalista Heitor Gregório, após este questionar o paradeiro do prefeito Paulinho Freire em um momento em que Natal era castigada pelas chuvas, diz mais sobre quem é Flávio do que sobre qualquer suposto erro cometido por Gregório.

Na postagem em que anunciou a demissão do jornalista, Flávio alegou ter passado por um constrangimento pessoal ao ver Gregório utilizar o espaço da Tribuna do Norte para criticar um amigo do dono, com quem mantém laços ancestrais e fraternais.

Fico refletindo sobre o que Flávio Azevedo entende ser o papel de um jornal, especialmente da Tribuna do Norte. Ao vir a público afirmar que críticas jornalísticas dirigidas ao prefeito municipal não eram aceitáveis, por conta da amizade e dos laços ancestrais que possui com ele, Flávio deixa claro para todos os leitores que, no seu jornal, só vira notícia aquilo que ele julgar conveniente — desde que seus amigos não sejam atingidos.

Esse entendimento demonstra que Flávio Azevedo acredita que seu poder econômico lhe confere o direito de decidir o que seu leitor pode ou não saber. Por ser proprietário, ele se coloca na posição de determinar os fatos que merecem ou não ser noticiados. Trata-se de uma visão tão medíocre, que só perde para o ato de torná-la pública.

Fica entendido de agora em diante, que na Tribuna do Norte está proibida qualquer notícia negativa envolvendo a administração da Prefeitura de Natal. A cidade pode estar um caos, a população pode estar sofrendo horrores — nada disso importa. A ligação ancestral de Flávio com Paulinho parece ser maior do que qualquer interesse público, maior do que qualquer respeito ao leitor.

O silêncio de Paulinho Freire diante da postura do amigo Flávio também diz muito. Da mesma forma, chama atenção o silêncio de Rogério Marinho. Será que ambos consideram essa uma conduta aceitável?

Assim como o empresário Flávio Azevedo revelou ao Rio Grande do Norte que seus valores jornalísticos são, no mínimo, questionáveis, não podemos deixar de refletir sobre seus valores políticos. Ele é suplente de senador e trabalha ativamente pela eleição de Rogério Marinho ao Executivo estadual. Caso isso ocorra, Flávio herdará quatro anos no Senado. O mesmo Flávio que sacrifica o interesse do leitor do seu jornal em nome da amizade com o prefeito, sacrificaria também o interesse do Estado em favor de suas ligações pessoais?

Por fim, entendo que o episódio da demissão de Heitor Gregório lhe é útil. Saiu de um ambiente onde a boa prática jornalística cede à conveniência do dono. E ajudou a desmascarar algumas condutas reprováveis.

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