Assisti a muita gente comemorando as 117 pessoas mortas pela polícia na ação nos morros da Penha e do Alemão. Embalado pela repercussão, o governador Cláudio Castro anunciou que pretende realizar mais dez operações idênticas em outras comunidades do Rio de Janeiro.
Não sei se alguém mais enxerga da mesma forma que eu, mas o que pode acontecer depois desse episódio, com um número tão alto de mortos, é preocupante.
Acredito que o governador está cometendo um erro gigantesco ao anunciar novas incursões com o mesmo modelo da anterior. Basta realizar mais uma ação semelhante — e nem precisa ter o mesmo número de mortes — para que caia por terra toda a justificativa de que os óbitos foram “justos e necessários”.
Uma segunda operação com um saldo expressivo de mortos seria o atestado definitivo de que essas ações têm como objetivo matar. Embora existam aqueles que simpatizem com a ideia de que “quanto mais matar, menos bandidos para nos preocuparmos”, ainda não vivemos na barbárie. Há leis a serem cumpridas, princípios jurídicos que regem a vida em sociedade.
Cláudio Castro criou uma encruzilhada para si mesmo. Se realiza uma nova ação e o número de mortos é alto, ficará claro que está promovendo chacinas. Essas operações deixarão de ser ações de segurança e se transformarão em ações de extermínio. Por outro lado, a hipótese de uma operação sem mortes é praticamente nula, já que os criminosos reagirão com ainda mais violência.
Há também um segundo aspecto: a matança na Penha e no Alemão representa, na prática, um retrocesso no combate às facções. A polícia entra, mata, sai — e em poucas semanas os líderes executados são substituídos. O crime volta a operar normalmente, o tráfico segue ativo e a população continua refém das facções. Nada muda. No próximo ano, a polícia terá de retornar para matar mais 117, e no seguinte, o mesmo.
Por tudo isso, acredito que o governador Cláudio Castro adotou uma estratégia equivocada em relação à segurança pública. Pode ter servido para impulsionar sua visibilidade política e alavancar uma eventual candidatura ao Senado em 2026, ou mesmo a de alguém do setor de segurança ao Governo do Estado.
E talvez — não duvidem — esse tenha sido o objetivo final desde o início.






