POR JESSÉ REBOUÇAS
Na física, a lei da impenetrabilidade afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo ponto no espaço simultaneamente. Em termos populares: “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar”.
Na política, essa premissa elementar é ainda mais fundamental. Mudanças de eixo em candidaturas não apenas transmitem sinais trocados aos aliados, como também dificultam a tomada de decisões e a formulação de estratégias eleitorais.
O senador Rogério Marinho, apesar de sua inequívoca habilidade política, parece ignorar a contradição de anunciar aos quatro ventos sua pré-candidatura ao governo do Estado enquanto concentra sua projeção política em temas quase exclusivamente nacionais. Cabe aqui uma contextualização.
Sempre estratégico, Rogério saiu na frente ao lançar sua pré-candidatura ao governo, elegendo como peça-chave ter a Prefeitura de Natal como parceira. Para isso, foi mais do que entusiasta da candidatura de Paulinho Freire — mesmo com as pesquisas mostrando adversidades à época —; acreditou nela antes mesmo que o próprio Paulinho acreditasse.
Além disso, tentou emplacar o vice do prefeito de Mossoró, o que poderia amarrar qualquer pretensão mais ousada do jovem gestor mossoroense rumo à representação estadual. Na FEMURN, apoiou Babá Pereira (PL), eleito com larga vantagem, com o intuito — dizem os bastidores — de estabelecer uma ponte entre os prefeitos e Rogério. E há ainda o senador Styvenson, que parece ter sido incumbido de antagonizar o prefeito de Mossoró nas redes sociais, dada sua ampla presença digital. Essas peças foram movimentadas em 2024. Fim da contextualização.
Já em 2025, pouco antes do evento político em sua residência em Búzios (litoral sul do RN), apurou-se que Rogério teria sido convocado a Brasília. Lá, teria recebido a informação de que, diante da possibilidade de prisão do ex-presidente Bolsonaro ainda esse ano, poderia ser chamado para uma missão nacional. Não se sabe qual. Jornais de grande circulação passaram a noticiar que o vice de Bolsonaro — caso fosse possível sua candidatura — viria do Nordeste. Os nomes? Rogério Marinho e Ciro Nogueira. Tudo indica que a “missão” mencionada esteja por aí.
Desde então, embora Rogério afirme manter sua pré-candidatura ao governo do RN, seus gestos, agendas e discursos estão quase que inteiramente voltados ao cenário nacional, especialmente na defesa da candidatura de Bolsonaro — que, ele sabe, não será candidato em 2026. Enquanto isso, temas estaduais urgentes — como a duplicação da BR-304, os gargalos de infraestrutura e o abismo no desenvolvimento em relação a outras regiões — são deixados de lado.
O problema da indefinição — com um pé (e quase o corpo inteiro) no cenário nacional e uma unha no estadual — é que a política não tolera vácuos. Os fatos se reacomodam e criam, por vezes, novas estruturas que sufocam possibilidades anteriormente viáveis.
Um exemplo disso é a criação da megafederação entre União Brasil e Progressistas, batizada de União Progressista. No RN, ela é conduzida por João Maia e José Agripino. João, embora eleito pelo PL, foi convidado a abrir espaço para Rogério; Agripino, por sua vez, apoia a pré-candidatura de Allyson ao governo do RN.
Até pouco tempo, a balança interna do União Brasil pendia contra Agripino, pois parte da sigla era comandada por ele, e outra por deputados próximos a Rogério — como Paulinho e Benes Leocádio. A eleição municipal de Parnamirim expôs essa cisão: o “União de Agripino” indicou a vice da Profª. Nilda, prefeita eleita, enquanto o “União dos deputados” apoiou Salatiel. Coisas da política.
Hoje, o cenário mudou. A nova federação não apenas unificou a legenda, como também reposicionou o jogo: Allyson, agora com o entusiasmo de Agripino, desponta como nome competitivo. João Maia se reaproxima, e cogita-se a saída de Robinson Faria do PL para o PP. Esse novo tabuleiro torna improvável que a federação apoie Rogério em 2026.
A julgar pelo momento, Rogério enfrenta dificuldades reais para viabilizar sua candidatura ao governo, seja por uma densidade eleitoral diminuta, seja por manter o foco quase que exclusivo no projeto nacional ao lado deBolsonaro.
Seja pela lei da impenetrabilidade, seja pelo bom e velho ditado popular, está claro: “dois corpos não ocupam o mesmo lugar”. A estratégia de Rogério — tentar manter uma (pré-)candidatura visível enquanto se posiciona para outra missão — pode lhe custar o timing político. E, com isso, dificultar não só sua própria trajetória, mas também a de aliados de primeira hora, como o senador Styvenson, que pode acabar sem palanque em 2026.
Mas isso… é assunto para outras reflexões.