Assisti ontem à noite a parte da longa entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro e do governador paulista, Tarcísio de Freitas, ao podcast Inteligência Ltda.. A entrevista foi concedida na véspera do início do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal. Tentar analisar cada fala dos entrevistados geraria um textão, por isso vou apenas fazer algumas considerações de forma mais geral.
Bolsonaro não trouxe nenhuma informação nova em relação aos fatos que lhe são imputados. Disse que não existe golpe sem armas e nem em um domingo, que o 8 de janeiro foi apenas um ato de baderna, que Mauro Cid fez delação sob pressão, que debateu com ministros sobre estado de sítio, mas que isso está previsto na Constituição, que é perseguido pelo STF, entre outros pontos.
Tarcísio esteve lá muito mais para demonstrar solidariedade ao ex-presidente e deixar claro que não é ingrato. A impressão que tenho sobre ele é que tudo o que diz é um cálculo para garantir o eleitorado bolsonarista, ao mesmo tempo que tenta sinalizar para o eleitor fora da bolha. Tarcísio tem um guru que lhe ensina a colocar um pé em cada lado da política. Estou falando de Kassab, que, ao mesmo tempo em que é o principal aliado de Tarcísio, também detém três ministérios no governo Lula.
Voltando a Bolsonaro, ele não está errado em contar sua versão dos fatos. Faz parte de sua defesa, e qualquer um seguiria pelo mesmo caminho. O problema é que, muitas vezes, essa versão contraria os fatos. Por exemplo, sobre a falsificação do cartão de vacina, o ex-presidente afirma que não tem nada a ver com isso e que, provavelmente, alguém, sem seu conhecimento, fez a falsificação para prejudicá-lo. Ele só não menciona que o tal cartão falso foi impresso na impressora da Presidência.
É evidente que Bolsonaro está muito preocupado com o desfecho desse processo. A chance de ele ser preso é enorme. Por isso, sua preocupação em manter seu capital político ativo. As entrevistas, as mobilizações e a geração de fatos de ampla repercussão, como o anúncio da “fuga” de Eduardo Bolsonaro para os Estados Unidos, fazem parte dessa estratégia. São os fiapos de corda com os quais ele tenta se salvar.