Por que Mossoró não tem mais tantos deputados estaduais e federais?

Ao analisar a atual representação de Mossoró na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, é comum ouvirmos que somos “a terra do já teve”. Mossoró já teve quatro deputados estaduais — hoje tem apenas um. Já teve dois deputados federais — atualmente, não tem nenhum.

Acredito que os tempos em que tínhamos quatro estaduais e dois federais pertencem a um momento político diferente. Diversos fatores atuaram conjuntamente para que a cidade tivesse esse destaque. Os dois grupos políticos que dominavam a cena local conseguiam monopolizar a atenção do eleitorado, concentrando os votos. Ou você era rosalbista ou era do sandrismo/lairismo.

Time que não joga não conquista torcida. E os dois grupos jogavam — e muito. Essa dinâmica ajudava a impedir que candidatos de fora conseguissem tirar uma fatia significativa do eleitorado mossoroense.

Com o passar dos anos, os “times” perderam identidade. Se juntaram e se separaram conforme conveniências políticas: Vingt Rosado reconciliou-se com Dix-Huit; Garibaldi fez dobradinha com Agripino; Sandra subiu no palanque de Rosalba; Fafá transitou do sandrismo para o rosalbismo. Enfim, a disputa perdeu suas cores e sua torcida. A paixão política foi esvaziada.

Na sequência, surgiu uma nova modalidade de apoio. Em 2014, por exemplo, Francisco José Júnior deu 12 mil votos em Mossoró a Galeno Torquato. Passamos a ver vereadores e lideranças locais firmando alianças com candidatos de fora. O voto virou moeda em um varejo interminável. E veio a pulverização dos apoios.

Antes, candidatos locais conseguiam se eleger praticamente apenas com os votos de Mossoró — como Ruth Ciarlini e Larissa Rosado. Mas a nova realidade fez com que alguns perdessem a eleição por confiarem somente nesse capital eleitoral local — casos de Jorge do Rosário e Soldado Jadson.

Claro que existem muitos outros fatores que contribuíram para essa mudança de mentalidade do eleitor. No entanto, quis focar especialmente nesse aspecto: o fim da disputa entre “torcidas”, das vigílias, do bafafá, do verde e do vermelho, das apostas, das discussões nas calçadas. Mossoró perdeu a conexão com seus representantes políticos. E, por isso mesmo, hoje em dia, tanto faz quem seja.

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