Styvenson Valentim em dez tópicos: a metamorfose política, as contradições e a reconexão com o eleitor

Vamos tentar recapitular um pouco a trajetória política do senador Styvenson Valentim. E, antes que me acusem de estar tentando detoná-lo ou bajulá-lo, afirmo desde já: o intuito é apenas entender o que se passa na cabeça dele e qual sua estratégia.

Primeiro. Em 2018, Styvenson foi eleito senador com 745.827 votos, 25,63% dos votos válidos, filiado ao partido Rede Sustentabilidade. Sua campanha foi atípica: recusou o uso do fundo eleitoral, não utilizou o tempo de rádio e TV a que tinha direito e adotou um discurso antipolítica. Styvenson foi um produto direto das circunstâncias daquele momento, em que a Operação Lava Jato era a grande estrela do noticiário.

Segundo. No mandato, adotou um modelo próprio. Realizou processo seletivo para escolher seus assessores, recusou as verbas de custeio, evitou parcerias com a imprensa e mantinha o discurso de que a política era algo maléfico e “seboso”.

Terceiro. Em 2019, migrou para o Podemos e assumiu o controle do partido, prometendo uma condução diferente. Nas eleições municipais de 2020, rejeitou alianças locais, dificultando inclusive a vida de aliados da legenda. Em Mossoró, por exemplo, ameaçou “dar uma canetada” e acabar com a chapa completa de candidatos a vereador.

Quarto. Em 2022, ainda pelo Podemos, lançou candidatura ao governo do estado e tentou repetir a estratégia do “diferentão”. Quase não participou de atos de campanha. Em plena disputa eleitoral, publicava vídeos nos fins de semana deitado no sofá ou almoçando com a família — cultivando a imagem de alguém alheio aos padrões da política tradicional. Obteve 307.330 votos, 16,8% do total válido.

Quinto. Com o desempenho pífio, Styvenson mudou o discurso. Passou a declarar que, dali em diante, faria política: começou a utilizar as benesses do cargo, como fundo partidário, fundo eleitoral, ajuda de custo, além de articular alianças e firmar parcerias na mídia — justamente com setores que antes criticava.

Sexto. O passo seguinte foi a aliança com Rogério Marinho. O capitão, que antes criticava duramente o senador do PL — cobrando explicações sobre a destinação de R$ 1,4 milhão para a construção de um mirante turístico em Monte das Gameleiras, além da distribuição de verbas pela Codevasf — passou a ser seu aliado de primeira hora.

Sétimo. Em 2024, Styvenson e Rogério consolidaram a parceria. Subiram juntos no palanque que elegeu Paulinho Freire em Natal, fizeram oposição conjunta a Allyson Bezerra em Mossoró, atuaram na eleição da Federação dos Municípios do RN e anunciaram publicamente uma aliança visando 2026.

Oitavo. No início de 2025, Rogério passou a mirar o plano nacional, atraído por promessas de integrar a chapa presidencial do bolsonarismo. Styvenson, sentindo-se órfão, deixou o Podemos e migrou para o PSDB, buscando no cenário nacional uma nova base de sustentação política.

Nono. Afastado de Marinho e isolado nas articulações políticas, Styvenson redirecionou sua estratégia. Aproveitou a boa recepção dos vídeos que publica cobrando prefeitos e autoridades sobre o uso das emendas parlamentares, reconectando-se com parte do eleitorado.

Décimo. Com essa nova conexão, Styvenson parece reeditar o personagem de 2018: o “diferentão”, crítico do sistema, isolado dos palanques e dos grupos tradicionais. Retoma o discurso antipolítica, atacando a classe política, as estruturas e a burocracia estatal. Sem Rogério, encontra um espaço que o favorece. Talvez a imagem bolsonarista de Marinho fosse, na verdade, um obstáculo. Não por acaso, Styvenson lidera todas as pesquisas para o Senado.


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