Tenho lido sucessivos artigos na grande mídia nacional sobre os muitos motivos pelos quais Jair Bolsonaro deveria apoiar Tarcísio de Freitas para a presidência da República. Todos os dias surgem jornalistas explicando por que isso é necessário, como se estivessem tentando convencer Bolsonaro — e os bolsonaristas — de que este é o único caminho possível.
Outro dia, li um artigo defendendo que Bolsonaro deveria apoiar Tarcísio porque ele seria o único com estatura suficiente para assinar um indulto em favor do ex-presidente e silenciar STF e classe política.
No início da semana, outro texto afirmava que Tarcísio é o único com reais chances de vencer Lula em um segundo turno.
Hoje, mais um argumento: com Tarcísio candidato, nomes como Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior desistiriam de suas pré-candidaturas em nome da unidade da oposição.
Enfim, não faltam intelectuais e estrategistas apontando razões pelas quais Bolsonaro não teria outra saída senão apoiar Tarcísio.
O problema é que Bolsonaro não enxerga a situação da mesma forma.
Ao repetir inúmeras vezes que Tarcísio tem alianças com setores que desejam bani-lo da política — e que o governador paulista aperta a mão de quem está do outro lado — Bolsonaro expõe sua leitura sobre quem está por trás de Tarcísio.
Tarcísio virou o queridinho da Faria Lima e da grande mídia — justamente os grupos que veem Bolsonaro como o maior mal para o Brasil. Diante disso, a desconfiança no bolsonarismo é de que apoiar Tarcísio seja, na prática, fortalecer o plano de afastá-lo de vez da cena política. E que Tarcísio teria aceitado esse papel.
De certa forma, ao observar a enxurrada de matérias tentando convencer Bolsonaro a apoiar Tarcísio — vindo, justamente, de uma imprensa historicamente antibolsonarista — fica difícil não desconfiar que o governador paulista tenha se abraçado com o inimigo.