Por Jessé Rebouças
O pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha, dizia com irreverência e precisão: “Eu estou aqui para confundir, e não para explicar”.
O ex-prefeito de Natal, Álvaro Dias, parece ser um fiel discípulo da máxima do inesquecível comunicador — sobretudo na forma como conduz sua atuação política no Rio Grande do Norte. Seus movimentos pendulares não apenas confundem, como revelam um senso de oportunidade, típico de quem navega conforme o vento, sempre em busca da melhor posição para locupletar seus próprios interesses no tabuleiro eleitoral.
Nas eleições de 2022, Álvaro teve um comportamento errático, acenando, simultaneamente, para três candidaturas à Câmara Federal: General Girão, Carla Dickson e Victor Hugo. Tudo ao mesmo tempo. Apenas na disputa para deputado estadual sua postura foi objetiva — afinal, o candidato era seu filho, Adjunto Dias.
Recordar é preciso: naquele mesmo pleito de 2022, Álvaro esteve em Mossoró ao lado do então candidato a vice-presidente Braga Netto — hoje preso, acusado de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, além de responder por obstrução à investigação criminal. Na ocasião, desferiu ataques diretos ao prefeito Allyson Bezerra, por este ter optado, estrategicamente, por não se posicionar na eleição presidencial.
Já em 2024, o roteiro se repetiu — com doses extras de incerteza. Após a tentativa frustrada de construir uma candidatura própria à Prefeitura de Natal — o famoso “candidato de Álvaro Dias”, figura ainda inexistente que, mesmo assim, era mencionada em pesquisas como uma entidade política — o ex-prefeito passou a fazer acenos públicos e discretos a diversos atores: Natália Bonavides, Carlos Eduardo e Paulinho Freire. Foi este último quem topou firmar aliança, tornando-se o escolhido oficial do prefeito no apagar das luzes, praticamente.
Em 2025, a tática se mantém: ao mesmo tempo em que lança olhares a Rogério Marinho e sua coligação, Álvaro também corteja o prefeito de Mossoró. Lá como cá, o “cerca-lourenço” é sua forma peculiar de valorização política — sempre esperando para ver qual projeto oferecerá melhores dividendos pessoais.
Contudo, apesar da movimentação intensa, Álvaro encontra-se em posição cada vez mais delicada. Com a federação MDB-Republicanos despontando como possibilidade no horizonte, o controle do grupo no RN dificilmente escapará das mãos do vice-governador Walter Alves. Nesse contexto, qualquer projeto que Álvaro deseje emplacar estará sujeito ao roteiro escrito por outros — seja pelo PL de Rogério, seja pelos medalhões do União Brasil e do PP. Perder o comando de uma sigla de peso eleitoral é, nesse jogo, perder a caneta e o protagonismo.
No teatro da política, quem vive de acenos múltiplos corre o risco de não ser convidado ao palco principal. E Álvaro, de tanto tentar confundir, pode acabar ficando sem plateia.