Diferente do que afirmei no texto anterior sobre Paulinho Freire e sua construção de imagem para o futuro, aqui em Mossoró o prefeito Allyson Bezerra segue em caminho inverso.
Allyson passa por um processo fortíssimo de desconstrução de imagem — está sendo desidratado a olhos vistos. Cercado por uma bolha acostumada a não lhe contrariar, ele parece incapaz de enxergar o estrago que cresce ao seu redor.
Enquanto Paulinho Freire articulou para ter a mídia como aliada, Allyson age com mão de ferro, exigindo da mídia parceira uma contrapartida de subserviência, omissão e bajulação. Quem ousa desagradar é tratado, de imediato, como inimigo.
O prefeito não tolera críticas e mantém um rígido controle sobre os veículos aliados em Mossoró. Tudo que é publicado pelos canais parceiros é monitorado. Se a notícia desagrada, o autor é chamado para “dar explicações”. O resultado desse controle é duplo: ou a submissão completa, ou o rompimento da parceria.
Essa relação tem gerado desgaste com consequências severas. Primeiro, pela perda dos parceiros, e, segundo porque os parceiros de mídia estão perdendo o entusiasmo e a espontaneidade em defender o prefeito. Além disso, percebem um tratamento desigual quando se comparam à mídia de Natal.
Um exemplo claro disso são as entrevistas concedidas por Allyson: em Mossoró, os entrevistadores são informados sobre as perguntas proibidas e os assuntos vetados; em Natal, esses filtros não se aplicam.
O objetivo desta análise, no entanto, não é discutir o controle que Allyson exerce sobre sua mídia parceira, mas a desconstrução de imagem que está em curso.
As menções negativas, denúncias e críticas administrativas e políticas ao prefeito têm se multiplicado. Já não há ato de destaque da Prefeitura que não seja acompanhado por uma enxurrada de contrainformações publicadas por canais de comunicação não alinhados ao governo.
Allyson, que viveu uma primeira gestão tranquila — sem oposição forte e surfando na popularidade —, agora enfrenta um cenário completamente diferente: é contestado e atacado em quase tudo que faz.
Essa nova realidade cobrará seu preço. Enquanto o prefeito acredita que sua popularidade e presença nas redes sociais bastam para conter a onda negativa, uma nuvem densa se forma sobre sua cabeça, ameaçando causar danos sérios à sua imagem.
Prestes a disputar uma eleição estadual, na qual eleitores de 167 municípios decidirão o futuro do Estado, Allyson enfrenta um desafio inédito: grande parte desses eleitores o conhece apenas de forma superficial, e as informações que chegam agora — muitas delas negativas — poderão ser decisivas para o voto.
Os sinais dessa fatura já aparecem nas próprias redes sociais do prefeito. As postagens, antes voltadas à gestão — obras, reuniões, liderança nos canteiros —, deram lugar a conteúdos de exaltação pessoal, com fotos abraçando crianças, posando com idosos, viajando, comendo, passeando, ouvindo declarações de fãs… conteúdo raso, voltado à autopromoção.
Ao invés de compreender o que está acontecendo ao seu redor e enfrentar a desidratação de imagem, Allyson segue dentro da bolha, alheio ao crescente cordão dos desencantados.






