Quando o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afastou-se do cargo para reassumir seu mandato na Câmara dos Deputados — e, no mesmo dia, foi indicado relator do Marco Legal contra o Crime Organizado — ficou evidente a estratégia política por trás da escolha.
A jogada foi articulada entre Hugo Mota e Tarcísio Freitas para retirar do Governo — autor da proposta — o protagonismo sobre um dos temas que mais devem influenciar o voto do eleitor no próximo ano.
“Roubaram o projeto de combate às facções do nosso governo, que foi quem elaborou a proposta”, reclamou Lula em reunião com ministros. A principal razão da queixa era o fato de Hugo Mota ter indicado alguém da oposição para relatar um projeto do Executivo, algo pouco comum.
Se o Marco fosse aprovado, o mérito recairia sobre a equipe de segurança de Tarcísio, que tem em Derrite uma espécie de ícone das polícias.
O problema é que Derrite acabou metendo os pés pelas mãos: retirou poderes constitucionais da Polícia Federal e promoveu alterações que passaram a ser apelidadas de “Retorno da PEC da Blindagem”.
Diante da pressão do governo e de entidades como associações de juízes, Ministério Público e Polícia Federal, Derrite teve de recuar. Já está na quarta versão do relatório. A votação foi adiada por Hugo Mota, diante da ausência de acordo e da rejeição quase unânime ao texto.
Enquanto isso, Tarcísio foi se afastando discretamente. O protagonismo que buscava transformou-se em dor de cabeça — e em mais uma bola fora.






