Analisei atentamente os números da pesquisa Quaest divulgada ontem à noite. Os dados mostram que o presidente Lula continua em queda na popularidade, registrando sua pior avaliação desde que reassumiu a presidência.
A pesquisa aborda tanto a avaliação do governo quanto a corrida eleitoral para 2026. Em vez de repetir números já amplamente divulgados, prefiro focar em dois aspectos cruciais da análise.
O primeiro ponto é a natureza da desaprovação do governo. Existem dois tipos principais de rejeição no poder: a rejeição da gestão e a rejeição da imagem pessoal do gestor. Embora muitas vezes interligadas, essas categorias precisam ser analisadas separadamente.
A rejeição pessoal é a mais difícil de reverter, pois envolve a percepção do eleitor sobre a conduta e a identidade do governante. Já a desaprovação da gestão, por mais preocupante que seja, pode ser modificada por fatores como a entrega de obras, uma boa estratégia de comunicação e até circunstâncias externas favoráveis.
O segundo ponto a destacar é que a avaliação da gestão não se traduz automaticamente em intenções de voto. Embora relacionadas, as duas variáveis não caminham juntas de forma absoluta.
Um bom exemplo disso ocorreu na eleição estadual de 2022 no Rio Grande do Norte. Durante a pré-campanha, a então governadora Fátima Bezerra enfrentava uma forte rejeição. Seis meses antes da eleição, suas intenções de voto não passavam de 30%, e ela liderava os índices de rejeição. No entanto, acabou reeleita no primeiro turno, com 56% dos votos.
Isso não significa que sua rejeição simplesmente desapareceu. O eleitor apenas concluiu que, diante das opções disponíveis, ela ainda era a melhor escolha.
Não estou sugerindo que Lula seguirá o mesmo caminho de Fátima e conseguirá reverter esse quadro. Meu ponto é destacar a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre a atual rejeição ao governo, considerando suas causas.
Há seis meses, muitos dos que hoje reprovam o governo o apoiavam. O foco deve ser entender os motivos dessa migração da aprovação para a desaprovação.
Parece-me que a insatisfação está ligada à inflação e ao aumento dos preços. Mas e se, no futuro, esses preços forem controlados?
Se a rejeição tiver um componente mais profundo e afetar diretamente a imagem de Lula, nem mesmo a estabilidade econômica será suficiente para recuperar sua popularidade. Caso contrário, a desaprovação pode voltar a se transformar em aprovação.