Conforme expliquei no post anterior, os acontecimentos da semana apontavam para um rompimento iminente entre Walter Alves e a governadora Fátima Bezerra. De fato, Waltinho havia tomado a decisão de não assumir o Governo. De fato, foi a Brasília comunicar essa decisão. E, de fato, recebeu conselhos para esperar mais um pouco.
Mas qual é o jogo que está sendo jogado? Há mais coisas por trás dos fatos do que aquilo que aparece à primeira vista.
A informação que tenho é de que Walter Alves não vai assumir o Governo em abril do ano que vem. A decisão está tomada. O que houve foi apenas uma mudança no timing do anúncio, não no conteúdo da decisão.
Ele pode mudar de ideia? Claro que pode. Mas, a preços de hoje, diante da realidade atual, isso é bastante improvável. Para compreender esse movimento, é preciso entender os motivos que levaram o vice-governador a virar a mesa do jogo político.
Não se trata apenas da bomba financeira em que o Estado se transformou e da constatação de que ele assumiria um verdadeiro abacaxi, passando nove meses “comendo o pão que o diabo amassou”. Walter Alves não chegou ontem ao parquinho: conhece bem a realidade do Estado e acompanha os números desde o primeiro ano de mandato.
A decisão tem mais relação com uma estratégia de sobrevivência política e com a percepção de que, se não disputar um cargo eletivo agora — que lhe garanta algum protagonismo —, ao fim de 2026 restaria apenas uma aposentadoria política nua e crua.
Foi nesse contexto que surgiu o plano de não assumir o Governo, disputar uma vaga na Assembleia Legislativa e buscar a presidência da Casa. Os olhos brilharam.
Do lado do PT, o sentimento é de traição. Walter teria rompido, de uma hora para outra, um acordo firmado há mais de um ano, com cada detalhe previamente ajustado. A mudança de planos não apenas desmontou a estratégia petista, como deixou o partido politicamente paralisado pelos próximos meses.
Já Walter avalia que vem “engolindo sapos” há muito tempo. Queria mais protagonismo, mais espaço para apitar o jogo e passou a se sentir uma peça descartável dentro da engrenagem.
Os dois lados estão magoados, cada um com suas queixas. Mas a política é a arte de engolir sapos — e ambos já começaram o processo de digestão. Esse será o tema da próxima postagem.





