Cartas, bastidores e disputa: a guerra silenciosa na família Bolsonaro

A família Bolsonaro está dividida. A internação e a cirurgia de Jair Bolsonaro para tratar uma hérnia inguinal expuseram, de forma inequívoca, um racha interno no clã.

Flávio Bolsonaro vinha sendo pressionado a apresentar provas de que sua indicação para disputar a Presidência da República não teria sido resultado de uma articulação artificial junto ao pai. Para fornecer essa prova, Flávio programou uma entrevista do ex-presidente ao portal Metrópoles, na qual Bolsonaro falaria, de viva voz, que o filho era seu sucessor escolhido.

Michelle Bolsonaro, porém, agiu rapidamente e impediu a entrevista. Por meio de uma carta assinada por Bolsonaro, o compromisso foi cancelado sob a alegação de motivos de saúde.

Há ainda um detalhe relevante: apenas Michelle havia conseguido autorização do STF para acompanhar Bolsonaro durante a cirurgia. Diante disso, Flávio agiu com rapidez e recorreu a pessoas com influência no Supremo para obter também autorização de visita ao pai durante a internação. Foi assim que, na primeira visita antes da cirurgia, Flávio saiu do hospital com uma carta assinada por Bolsonaro — redigida previamente — na qual o ex-presidente o declara como seu sucessor.

Mas por que Flávio e Michelle estão em disputa?

Quando Flávio anunciou que havia sido escolhido pelo pai para disputar a Presidência, parte expressiva do bolsonarismo questionou a decisão. Entre os críticos mais contundentes está o pastor Silas Malafaia, defensor de uma chapa formada por Tarcísio de Freitas para a Presidência e Michelle Bolsonaro como vice.

Articulada com o grupo que não deseja ver Flávio como candidato, Michelle atuou para evitar qualquer declaração pública do ex-presidente que tornasse essa escolha irreversível. Ainda assim, Flávio conseguiu a carta assinada e a divulgou imediatamente.

E o que significa essa divisão na família Bolsonaro?

Com a prisão de Jair Bolsonaro, a voz do principal líder do grupo foi silenciada. Abre-se, assim, uma disputa entre os herdeiros pelo espólio político. A cisão do clã — de um lado Flávio, Eduardo e Carlos; de outro, Michelle — cria um ambiente favorável para que partidos interessados em derrotar o PT, reunidos no chamado Centrão ou Centro-Direita, tentem fortalecer Michelle Bolsonaro, por considerarem que, com ela, haveria maior possibilidade de controle político.

O objetivo desses grupos é manter o voto bolsonarista sem Bolsonaro. E avaliam que, com Michelle, esse caminho seria mais viável.

Como a história frequentemente demonstra, disputas sucessórias entre herdeiros quase sempre provocam estragos — não apenas na unidade familiar, mas, sobretudo, no espólio político.

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