Vou voltar a comentar algo que achei bizarro na entrevista de Styvenson Valentim, na sexta-feira à noite, na FM 96, de Natal. Assisti à entrevista na íntegra, mas houve um trecho que precisei rever três vezes, porque simplesmente não acreditei no que ouvi.
Inacreditável.
Styvenson foi questionado sobre o motivo de ter apagado de suas redes sociais o vídeo em que criticava o aumento do número de deputados — de 315 para 531 —, um projeto que representou elevação nos gastos públicos. O detalhe: depois de criticar duramente a proposta, ele foi lá e votou a favor.
Sabem qual foi a resposta de Styvenson? Acreditem: ele disse que fez isso por coerência.
Repito: coerência, coerência, coerência.
Confesso que, nesse ponto, fiquei de boca aberta. O senador faz um vídeo detonando o aumento no número de deputados e, um mês depois, vota a favor — e ainda chama isso de coerência?
Esperem, o melhor ainda estava por vir. Styvenson resolveu explicar a sua “coerência”.
Disse que mudou de opinião porque percebeu que, se tivesse se mantido coerente com o que pensava no início do mandato — criticando fundo eleitoral, atacando a política tradicional —, não teria chegado onde chegou. Segundo ele:
“Eu precisei fazer algumas mudanças na minha vida política, não como ser humano, mas como político.”
Não sei se o leitor conseguiu entender: ele está dizendo que mudou de comportamento político por conveniência, por cálculo — e chama isso de coerência.
O detalhe: essa mudança de opinião sobre o número de deputados aconteceu em menos de um mês. Ele criticou quando a matéria passou na Câmara, em maio, e votou a favor no Senado, em junho.
Nesse ponto, o repórter pergunta se ele, então, se rendeu ao sistema. Uma pergunta direta e justa, já que Styvenson sempre se vendeu como antissistema, antipolítica.
E sabem qual foi a resposta dele? “Não, de jeito nenhum.”
Ele voltou a argumentar que tem direito de mudar de opinião, e reafirmou: fez isso por coerência.
Confesso: fiquei pasmo, estarrecido, com a desfaçatez da resposta.
Quer dizer, então, que alguém é coerente porque, num mês, diz que algo é errado, e no mês seguinte vota a favor desse mesmo erro?
É coerente porque cansou de ser o “certinho” e agora resolveu fazer política como todo mundo: usando os R$ 600 mil mensais a que seu gabinete tem direito, votando como o sistema manda — mas sem se render ao sistema, de jeito nenhum.