O grande empresariado do país e os principais grupos controladores da mídia traçaram um enredo para 2026. Porém, a “novela” saiu do controle e o desfecho tornou-se imprevisível.
Vamos aos fatos.
Esses grandes grupos — que chamarei de “Longa Mão” — tinham três objetivos:
- Manter o bolsonarismo sob controle.
- Tirar o petismo do poder.
- Empossar um presidente que lhes garantisse fidelidade.
Para controlar o bolsonarismo, seria preciso agir em várias frentes ao mesmo tempo:
- Isolar Jair Bolsonaro por meio da inelegibilidade e de condenações judiciais.
- Colocar “coleira” no bolsonarismo extremado.
- Garantir que os bolsonaristas votassem em um nome escolhido pela “Longa Mão”, alguém com alguma identidade com essa ala.
Na segunda frente, para tirar o PT do poder, os desafios eram:
- Manter o partido desconectado da sociedade.
- Fazer o governo sangrar, impedindo que entregasse bons resultados.
- Enfraquecer o eleitorado petista entre as classes mais pobres, de baixa escolaridade, católicos e nordestinos.
A terceira frente consistia em criar a candidatura ideal, com as seguintes características:
- Ter identidade de centro com viés à direita.
- Atrair o voto bolsonarista, mas manter Bolsonaro fora do jogo.
- Comprometer-se com a política econômica liberal.
Com esses objetivos, a “Longa Mão” passou a observar suas opções entre os governadores: Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Romeu Zema. As pesquisas apontaram Tarcísio como a melhor alternativa. O jogo parecia totalmente controlado: Lula em queda, Bolsonaro cada vez mais próximo da prisão, o bolsonarismo raiz domesticado, e Tarcísio em ascensão.
Mas então, dois eventos derrubaram as peças do tabuleiro: o tarifaço de Trump e a prisão domiciliar de Bolsonaro.
O tarifaço deu sobrevida ao PT e a Lula. O ataque à soberania nacional, a ingerência externa e as ameaças dos EUA geraram indignação popular e ajudaram o PT a se reconectar com parte da população. O governo ainda ganhou um “bode expiatório” perfeito: se o dólar subir, o PIB cair ou o desemprego aumentar, a culpa recairá sobre o tarifaço e sobre a família Bolsonaro.
Já a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro reacendeu o bolsonarismo radical. Os atos esvaziados deram lugar a movimentos mais articulados, como ocupação do Congresso, fechamento da Câmara e do Senado, pautas de anistia, pedido de impeachment de Alexandre de Moraes e fim do foro privilegiado. O grupo se inflamou e saiu de controle.
A “Longa Mão” perdeu o comando do jogo. Lula recuperou terreno e voltou a crescer em popularidade. O bolsonarismo se insurgiu, clamando pela volta de Bolsonaro e por anistia imediata. E o ungido Tarcísio de Freitas se perdeu no discurso, desagradando a todos e optando por se esconder.
Com o tabuleiro virado, o cenário ficou imprevisível. O tarifaço pode se agravar, o bolsonarismo pode radicalizar ainda mais diante da condenação de seu líder, e o PT parece renascer das cinzas.
Havia um jogo sendo conduzido com lances calculados; agora, a partida está aberta e sem dono.