Golpe? Não vi, não sei, não fui. O festival de desculpas e o silêncio ensaiado dos acusados

Depois de assistir a dezenas de vídeos com os recortes dos depoimentos dos oito acusados de integrarem o núcleo principal da tentativa de golpe de Estado, fiquei com uma dupla sensação: de que alguns pensam que todo mundo é bobo, e de que, nessa história, só tem santo.

Foi um festival de pedidos de desculpas. Bolsonaro se retratou por ter dito que havia corrupção no STF e que os ministros Barroso, Moraes e Fachin estariam recebendo 30 milhões de dólares cada um para promover uma eleição fraudada.
O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, pediu desculpas ao TSE pelas acusações de fraude nas urnas. O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, desculpou-se pelos xingamentos contra os membros da Suprema Corte encontrados em seu celular.

Todos estavam arrependidos — ou, ao menos, tentavam parecer. Um verdadeiro desfile de desculpas, com cada um tentando passar a imagem de que tudo não passou de arroubos emocionais, destemperos verbais. Só isso, nada mais.

Além da fila das desculpas, os oito acusados ouvidos nesta fase do processo foram unânimes em repetir: não sabiam de nada, não fizeram nada, não participaram de nada. Todos estavam, aparentemente, de gaiato no navio.

Bolsonaro alegou que não tinha ligação alguma com os “malucos” acampados em frente aos quartéis. Anderson Torres disse que os documentos encontrados em seu computador eram privados e nunca saíram de lá. Braga Netto afirmou que tudo o que foi encontrado em seu celular estava “fora de contexto”. Já Heleno, coitado, optou pelo silêncio — e quando quis falar algo, foi aconselhado pelo advogado a limitar-se a responder “sim” ou “não”.

Enfim, essa gente quer que acreditemos que tudo o que aconteceu — minuta de golpe, reuniões, dinheiro em sacolas, expectativa pelas 72 horas, bombas para explodir o aeroporto, 8 de janeiro, acampamentos em quartéis, a selvageria em Brasília na véspera da diplomação — foi apenas coincidência. Ninguém viu, ninguém sabia, ninguém articulou. E no fim de tudo, esperam que aceitemos um singelo pedido de desculpas, demos as mãos e cada um volte tranquilamente para casa.

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