Eu e essa minha mania de prestar atenção nas entrelinhas das falas dos nossos políticos. Assisto às entrevistas, ouço as declarações, mas fico com uma lupa procurando as informações subliminares — o que não é dito, mas pode ser subentendido.
Vamos a mais um exemplo.
Refiro-me à entrevista da prefeita de Pau dos Ferros, Marianna Almeida (PSD), concedida à jornalista Anna Ruth Dantas, na Rádio 98 FM, no início desta semana. O tema central foi o convite que Marianna recebeu para ser vice na chapa de Cadu Xavier em 2026. Ela respondeu se aceitaria ou não o convite.
Marianna disse três coisas que quero destacar:
“Se me dissessem: a eleição é agora, você precisa tomar uma decisão, minha decisão seria continuar prefeita. Porque fui reeleita muito recentemente.”
“Mas a eleição é somente no próximo ano. Eu acho que também posso contribuir com o município de Pau dos Ferros de outras formas.”
“O futuro a Deus pertence, e eu sou uma pessoa que ama desafios. Não tenho medo de enfrentar nada, principalmente se for para fazer o bem às pessoas.”
Vejo nestes trechos duas frases emblemáticas: “também posso contribuir com Pau dos Ferros de outras formas” e “sou uma pessoa que ama desafios”. Fica muito claro que Marianna enxerga com bons olhos o convite que recebeu.
Ao dizer que pode ajudar Pau dos Ferros “de outras formas”, ela sinaliza que permanecer na Prefeitura não é condição inegociável, e que ocupar a vice-governadoria seria, sim, uma forma alternativa — e legítima — de seguir contribuindo com sua cidade. Ela, portanto, fecha a porta para o argumento de que é melhor continuar como prefeita.
Já ao afirmar que “ama desafios” e “não tem medo de enfrentar nada”, responde diretamente àqueles que veem a candidatura a vice como arriscada, por estar ligada a uma chapa que, hoje, não lidera nas pesquisas. Marianna deixa claro: isso não a impede de topar o desafio.
Se Marianna, ao comentar o convite, apresenta exatamente os argumentos que usaria para dizer sim, o indicativo é forte de que ela simpatiza com a proposta.
A aproximação recente com Allyson Bezerra — visível nas visitas cordiais e na boa relação institucional — não significa que uma aliança política entre os dois esteja sacramentada. É uma relação entre prefeitos. Até porque, nesse caso, ela não teria papel de protagonismo na chapa de Allyson. Acredito que, hoje, sua aproximação com a governadora Fátima seja mais concreta e estratégica.
Só para concluir com a informação oficial: o MDB confirmou que convidou Marianna para se filiar ao partido e ser indicada como vice de Cadu Xavier. Ela respondeu que precisava de tempo. E ganhou esse tempo.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.