A estratégia do governo Lula para conter os preços nos supermercados se assemelha bastante à adotada pelo governo Bolsonaro na tentativa de viabilizar sua reeleição em 2022.
Na época, o marketing de Bolsonaro alertou que, com a inflação apurada em 2011 de 10,06% e o preço da gasolina próximo de R$ 10, seu sonho de um segundo mandato estaria ameaçado. Com foco exclusivamente no voto do eleitor, Bolsonaro forçou a limitação do ICMS sobre combustíveis — contrariando o princípio federativo, já que o imposto pertence aos estados — e reduziu a carga tributária de diversos produtos.
A alta no preço dos alimentos tem sido um dos principais fatores de desgaste na popularidade de Lula. Há semanas, parte de sua equipe busca uma solução para o problema e, no fim, o governo anunciou um pacote com grande semelhança ao adotado por Bolsonaro.
A redução a zero da alíquota de importação para produtos como carne e milho não parece ser uma solução eficaz. A experiência mostra que as reduções de impostos raramente se refletem nos preços ao consumidor. A cadeia produtiva acaba absorvendo tudo. Além disso, pedir aos estados que zerem o ICMS sobre os produtos da cesta básica significa, mais uma vez, transferir a conta para os governos estaduais.
A principal diferença entre Lula e Bolsonaro nesse aspecto é a abordagem: enquanto Bolsonaro impôs a redução à força, Lula optou por solicitar aos governadores que o façam voluntariamente. Vale lembrar que, na atual gestão, o governo federal precisou compensar financeiramente os estados que alegaram perdas devido à redução forçada do ICMS no governo anterior.
A alta nos preços dos alimentos tem causas complexas, muitas delas externas. Além disso, há um movimento da indústria que aproveita o cenário para reajustar preços e recompor margens de lucro. O governo não está errado em tentar conter essa escalada, mas é pouco provável que as medidas adotadas tenham o efeito desejado. Afinal, uma boa parte dos atores que poderiam atuar apagando o incêndio, preferem mantê-lo bem aceso.