Registro de pesquisas passa a ser obrigatório em janeiro. O excesso delas não deve acabar

Nos últimos dois meses, tivemos aqui no Rio Grande do Norte a divulgação de pelo menos dez pesquisas eleitorais — realizadas por dez institutos diferentes. Foram números para todos os gostos.

A partir de 1º de janeiro, as pesquisas precisarão estar devidamente registradas no Tribunal Regional Eleitoral para que possam ser divulgadas. Elas deverão cumprir todo o protocolo exigido: informar quem contratou, o valor do custo, o questionário aplicado, os locais onde foram realizadas e só poderão ser publicadas cinco dias após o registro.

Trago essa informação porque estamos sempre diante de um debate que alguns intitulam de “farra das pesquisas” — um excesso de levantamentos divulgados, em alguns casos, com o objetivo de influenciar o eleitor em seu processo de escolha.

Para mim, o maior exemplo desse excesso ocorreu no ano passado, em Natal. No último mês de campanha, houve a proporção de mais de uma pesquisa por dia sendo divulgada. Na última semana, chegamos a ter cinco pesquisas em um único dia.

Fica muito claro que esse volume atendeu às estratégias eleitorais dos candidatos. Uma pesquisa pode elevar artificialmente determinado nome, outra confirma, e uma terceira “sacramenta” os números, fazendo parecer que se trata de um retrato fiel da realidade do momento.

Mesmo com o registro obrigatório na Justiça Eleitoral, ainda existem diversas formas de manipular levantamentos e direcionar resultados. São artifícios metodológicos possíveis. Um exemplo é a ordem das perguntas: é possível influenciar o eleitor ao apresentar, antes, questionamentos em que um nome aparece repetidamente, o que leva o respondente a citar o mesmo nome depois, de forma inconsciente.

Outra forma é o direcionamento dos locais das entrevistas. Embora os institutos informem que as áreas são escolhidas aleatoriamente, isso nem sempre é verdade. Há ainda a manipulação dos questionários, o que também interfere nos resultados.

Veja bem: não estou acusando este ou aquele instituto de agir dessa forma. Apenas aponto hipóteses que tornam possível esse tipo de distorção.

A discrepância entre os números de um levantamento e outro — fato comum quando há grande volume de pesquisas — gera dúvidas sobre se a “fotografia” foi, de fato, bem tirada.

Portanto, a partir de janeiro, fiquemos atentos: toda pesquisa deverá estar registrada. É importante analisarmos com cuidado os relatórios e avaliarmos cada uma delas com senso crítico.

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