Um dos princípios presentes na maioria das constituições ao redor do mundo é o da autodeterminação dos povos. Esse princípio garante que cada país tenha o direito de escolher seu sistema de governo, eleger seus representantes, preservar suas crenças e cultura e existir de acordo com a vontade de seu próprio povo.
Quando um país é invadido por outro, esse princípio é violado. Os invasores, via de regra, buscam impor suas normas e exercer controle sobre o país invadido. Foi assim na invasão da Rússia à Ucrânia, e é assim no ataque de Israel ao Irã.
Ontem, li uma manchete em que o ex-presidente americano, Donald Trump, exigia a rendição incondicional do Irã. Imediatamente pensei: “Pera aí, cara-pálida, quer dizer que Israel ataca um país soberano e o esperado é que o invadido aceite a agressão sem reagir e sem impor nenhuma condição?”
A justificativa de Israel é que o Irã tem financiado grupos como o Hamas e o Hezbollah, que atuam contra o Estado israelense. Outra justificativa é a possível produção de armas nucleares pelo Irã, o que, por se tratar de um país guiado por motivações religiosas e considerado instável, seria inaceitável — mesmo que Israel possua seu próprio arsenal nuclear.
A Rússia atacou a Ucrânia alegando que a adesão do país vizinho à OTAN colocaria armamentos ocidentais em sua porta, com mísseis apontados para suas principais cidades. O direito de defesa de Israel seria diferente do direito de defesa da Rússia?
Não estou defendendo nenhuma dessas guerras. Na verdade, me surpreende que, com toda a história de destruição, os líderes mundiais ainda não tenham aprendido a evitar novos conflitos. No entanto, o mundo parece novamente à beira de enfrentamentos com proporções globais.
O Hamas atacou Israel e cometeu atrocidades. Israel tem, sim, o direito de se defender. Mas isso não justifica o massacre em Gaza, onde mulheres e crianças são dizimadas. São dois milhões de pessoas com casas destruídas, sem comida, água, hospitais ou escolas — bombardeadas diariamente. Seria como, em uma favela com 10 mil moradores, exterminar todos para eliminar 100 criminosos. Isso é aceitável?
O Irã é um país hostil a Israel, mas isso não justifica uma guerra total. Se essa lógica for aceita, amanhã veremos dezenas de outras guerras com base na mesma justificativa, pois grupos hostis financiados externamente existem em praticamente todo o Oriente Médio.
Nenhuma guerra se justifica. Infelizmente, vivemos um cenário onde o conflito se intensifica a cada dia, com resultados imprevisíveis. A guerra pode até ter um motivo para começar, mas nunca sabemos como ou onde ela vai terminar.