Quando leio alguns analistas políticos do RN, percebo que tratam o palanque da governadora Fátima Bezerra como um palanque à esquerda, e o de Rogério Marinho, como um palanque à direita. E, ao se referirem à possibilidade de o prefeito Allyson Bezerra montar seu próprio palanque, classificam-no como uma opção mais ao centro.
Quero tratar esse terceiro palanque como o da terceira via. Explico: tanto Rogério quanto a própria Fátima se alinham, em parte, com o centro. O PT articula alianças com MDB, PSD e PP — todos partidos de centro. O PL, por sua vez, busca união com União Brasil e PSDB, também siglas de centro.
Dito isso, volto às dificuldades inerentes à formação de um palanque da terceira via. Sua construção precisa se alimentar, primeiramente, do discurso de que a eleição de 2026 não será um debate entre esquerda e direita, democracia e antidemocracia. O discurso terá que negar a polarização, sob pena de ser engolido por ela.
Uma terceira via justificaria sua existência com a ideia de que o eleitor quer discutir mais emprego, melhores estradas, comida na mesa, escola de qualidade — e não está disposto a entrar na eterna lenga-lenga entre petistas e bolsonaristas. Mas… será mesmo?
Olhemos para os grupos nas redes sociais, para o almoço de domingo em família, para a resenha do futebol depois da pelada: o que se debate por lá? Pauta de costumes, tentativa de golpe, anistia ou não anistia, prisão de Bolsonaro, picanha, preço do café, banheiros trans — enfim, a pauta que todos conhecem.
Tenho discordado de quem acredita que 2026 será diferente, que a polarização não se repetirá ou que não será fator decisivo na escolha do eleitor. Tudo indica que será sim. A polarização ainda pulsa na veia política dos brasileiros com o mesmo grau de insensatez e beligerância que teve em 2022. Bolsonaro e Lula se retroalimentam dessa disputa. Ambos já demonstraram que não desejam levar o debate muito além disso.
Retornando à construção de uma terceira via no RN: caso ela realmente exista, necessariamente deverá ser encabeçada por Allyson Bezerra. Isso significará que ele terá perdido a disputa pela unificação das oposições e estará construindo uma via alternativa própria para disputar o Governo do Estado.
Uma terceira via também significa um palanque sustentado por poucos partidos. Se for com Allyson, terá como base o União Brasil e poucos aliados. O maior bloco oposicionista, provavelmente, estará com Rogério Marinho e seu projeto. Nesse palanque, não deverá estar o PSD da senadora Zenaide Maia, que integrará o grupo governista.
A terceira via não terá um caminho fácil. Terá menor estrutura, poucos partidos e enfrentará o risco constante de ser engolida pela polarização.