Do discurso à contradição: o novo perfil político de Allyson e o abandono da própria narrativa

A informação que está circulando na mídia política de que o prefeito Allyson Bezerra pretende lançar sua esposa, Cinthia Pinheiro, como candidata a deputada estadual em 2026, representa a segunda porta fechada em relação ao discurso que ele mesmo construiu para se apresentar como “o diferente” na política.

Quem não se lembra do Allyson de 2018 — e até mesmo de 2020 — que se vendia como o candidato que enfrentava as oligarquias e as famílias que se perpetuavam no poder? Esse discurso convenceu muitos eleitores, que o enxergaram como símbolo de renovação.

A primeira porta fechada foi a aliança com o ex-senador José Agripino Maia, a quem Allyson entregou a função de tutor político, seu principal conselheiro. Ora, ninguém melhor do que Agripino para representar os velhos grupos oligárquicos, a perpetuação no poder e o atraso histórico. Agripino foi prefeito biônico de Natal, nomeado durante a ditadura, e seu pai, Tarcísio Maia, foi governador nomeado pelo regime militar. Em 2018, foi expurgado pelo eleitor, ficando apenas em décimo lugar na disputa pela Câmara Federal.

Mas agora, o discurso mudou. O prefeito trata Agripino como “a voz da experiência”, “modelo para jovens políticos”, exaltando sua trajetória como senador, prefeito e governador. A narrativa mudou da água para o vinho. Mudou por conveniência.

A segunda porta que Allyson fecha agora é a do discurso contra o nepotismo político. Onde foi parar aquele jovem político que dizia que política não era meio de vida, nem espaço para empregar familiares? Caso se confirme a candidatura da sua esposa como candidata à Assembleia Legislativa, o prefeito pisa em tudo que defendia no passado.

Ele dizia — com todas as letras — que política não podia ser instrumento de interesses familiares. Que eleger filhos, esposas, irmãos ou sobrinhos era perpetuação de poder, não renovação. Que política não podia se transformar em um negócio de família.

Observe bem, caro leitor: não estou dizendo que Agripino ou Cinthia não sejam pessoas capazes ou sem mérito. A questão aqui é a profunda contradição entre o que Allyson pregava e o que hoje pratica.

Do jeito que as coisas caminham, só falta agora o prefeito fechar a terceira porta: a do discurso do “menino pobrezinho”. Esse, ele ainda sustenta. Volta e meia relembra a infância humilde na zona rural, a casa de taipa, as dificuldades. É o último pilar do personagem original. Mas… quem pode garantir até quando?

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