Enquanto os políticos brigam para mostrar quem enviou mais recursos para a Barragem de Oiticicas, numa disputa interminável pela paternidade da obra, acabam esquecendo o que realmente importa. A barragem está lá, pronta — isso é fato — e já começando a armazenar água.
O verdadeiro problema vem depois disso.
Atualmente, não há um único projeto definido sobre como será feita a utilização dessa água acumulada. É possível que tenhamos um inverno generoso e, até junho, a barragem esteja cheia. Mas isso, por si só, não representa grande coisa, pois, provavelmente, toda essa água acabará evaporando ou sendo simplesmente escoada para o oceano.
Não existem projetos de irrigação. Não há iniciativas econômicas, como projetos de pesca ou turismo. Em resumo: após a entrega da obra amanhã, a única certeza que teremos será o acúmulo da água, sem um planejamento concreto para seu aproveitamento.
Lembro-me bem da entrega da Barragem de Santa Cruz, em Apodi, um sonho que levou séculos para se concretizar. A obra foi concluída, mas até hoje sua água é subutilizada e desperdiçada, justamente pela ausência de projetos voltados para sua exploração. Quase nenhum projeto de irrigação foi implantado. Somente agora, 23 anos depois, é que estão construindo a adutora de Santa Cruz, que levará água da barragem para Mossoró.
Fica aqui um conselho: ao invés de disputarem quem conseguiu mais verbas para a construção, seria mais proveitoso arregaçar as mangas e buscar recursos para projetos de irrigação, turismo e aproveitamento econômico do potencial hídrico da barragem. Isso, sim, seria uma verdadeira contribuição. O bebê já nasceu; agora é hora de pensar no futuro dessa criança.