Uma palavra sobre o Papa Francisco, falecido na última segunda-feira. Um papa diferente, simpático, boa praça, e que promoveu várias mudanças na Igreja Católica. Sou evangélico, mas conheço bem a Igreja. Cursei seminário menor e maior. Estudei parte dos cursos de Filosofia e Teologia em Assu e Recife, quando me sentia vocacionado para o sacerdócio. Depois, mudei de ideia.
No Brasil, o papado de Francisco é frequentemente interpretado conforme a visão política de quem o analisa. Para os bolsonaristas, trata-se de um papa comunista. Para os petistas, é o Papa dos pobres.
Quando penso nessa visão que rotula o Papa como comunista, fico me perguntando qual é, afinal, a definição de comunismo para essas pessoas. Parece que, para alguns, qualquer um que defenda menos desigualdade social, educação e saúde de qualidade para os mais carentes, menos exploração trabalhista e mais direitos humanos já merece o rótulo de comunista.
Sob essa lógica, o próprio Jesus Cristo poderia ser classificado como tal. Boa parte da direita vê políticas sociais, redistribuição de renda e discursos igualitários como características do comunismo.
Ora, Jesus pregava o desapego material e a partilha com os necessitados. Estaria Ele falando em distribuição de riquezas de forma mais justa? “Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu” (Marcos 10:21).
Jesus se aproximava de pobres, prostitutas, doentes, leprosos e cobradores de impostos — grupos socialmente excluídos. Para setores ultradireitistas, qualquer discurso de inclusão ou empatia com minorias pode ser considerado parte de uma agenda “identitária”.
Mas este não é um texto para discutir se Jesus tinha ou não uma identidade comunista. Meu objetivo é refletir sobre a morte do Papa Francisco e tentar entender por que, para um grupo mais conservador, ele recebeu o rótulo de comunista.
Na minha visão, Francisco se alinhava com causas cristãs. É verdade que tinha preferências políticas, e seus alinhamentos com líderes de esquerda se tornaram evidentes. No Brasil, por exemplo, não há sequer uma foto do Papa com Bolsonaro, enquanto Lula esteve com ele em várias ocasiões. Ainda assim, não acho correto classificá-lo como um papa de esquerda.
Francisco não era comunista. Era o líder de uma igreja que historicamente tem uma opção preferencial pelos pobres. Liderou 1,4 bilhão de católicos espalhados pelo mundo. Foi uma liderança mundial influente, que comprou brigas internas dentro da Igreja Romana devido à sua postura crítica em relação a dogmas que, para ele, já não se sustentavam.
Muitos papas vieram e se foram sem deixar grandes marcas. Francisco, não. Foi um papa com um legado transformador: uma Igreja mais inclusiva, mais aberta. Nem comunista, nem esquerdista — apenas um líder religioso com uma boa visão de mundo.