Por Jessé Rebouças
A história das campanhas eleitorais ensina, com eloquência cortante, a natureza implacável do jogo político.
Em 1996, Wilma de Faria, após o retumbante fracasso eleitoral de dois anos antes, decidiu submeter-se novamente ao crivo popular, desta vez na disputa pela Prefeitura de Natal. Para viabilizar sua candidatura, firmou uma aliança improvável com o então senador José Agripino Maia — e venceu. A vitória não apenas a reconduziu à cena política, mas a consolidou como uma das figuras mais resilientes da história potiguar.
A prova maior de sua força viria em 2002. Rompida com Agripino e com Garibaldi Alves — dois cardeais da política local que seriam eleitos senadores naquela mesma eleição (Garibaldi, inclusive, renunciando ao governo para concorrer ao Senado, a exemplo do que Fátima Bezerra deve fazer em 2026 com Kadu Xavier) —, Wilma lançou-se ao governo do Estado como terceira via.
Enfrentou dois adversários robustamente ancorados nas engrenagens do poder: Fernando Freire, então governador e candidato à reeleição, com Laíre Rosado de vice e o apoio explícito de Garibaldi; e Fernando Bezerra, que contava com Carlos Augusto Rosado como vice e o suporte político de Agripino. Wilma, praticamente só, desafiou toda a estrutura vigente — e venceu. Uma façanha que não brotou da força institucional, mas da energia popular canalizada.
Avancemos para o presente.
No tabuleiro político de 2026, dois blocos antagônicos já se posicionam com as armas afiadas: de um lado, o senador Rogério Marinho, escudado na retórica bolsonarista e na confortável posição de disputar o governo sem abrir mão do mandato parlamentar. De outro, o grupo liderado por Fátima Bezerra, impulsionado pela máquina do governo federal, que busca viabilizar a candidatura de Kadu Xavier ao Executivo estadual.
Ambos os lados contam com musculatura financeira, apoio institucional e tentam mimetizar, em solo potiguar, a polarização ideológica do cenário nacional — frequentemente caricata, quase sempre empobrecedora do debate público. Há, nesse embate, o risco concreto de que o RN assista a uma campanha movida a slogans, narrativas vazias e fantasmas importados, enquanto temas estruturais — saúde, segurança, emprego e desenvolvimento regional — são deixados de lado como se fossem periféricos.
Correndo por fora desses dois colossos, porém, uma figura vai se desenhando com consistência e sem alarde: o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra. Ainda que não tenha oficializado sua candidatura, lidera pesquisas de intenção de voto, fruto de um capital simbólico que tem crescido à margem das superestruturas — e essa faz uma diferença que substantiva.
Allyson representa, até aqui, a terceira via das urnas.
Em 2026, o Rio Grande do Norte poderá revisitar o dilema de 2002: Porque, no fim das contas, não é o barulho das máquinas que decide uma eleição — é o silêncio eloquente do povo nas urnas.